Um aluno chega à sala da direção chorando porque foi xingado por um colega. O gestor passa a mão na cabeça dele e dá pouca atenção ao que aconteceu. Pode ser que seja um fato isolado e que não se repita. Mas é bom lembrar que o bullying - violência verbal ou física, feita de forma intencional e continuada, por um ou mais alunos a um ou mais colegas - sempre começa com pequenas atitudes desrespeitosas. Por isso, nenhum comportamento agressivo por parte das crianças ou dos jovens deve ser ignorado pela equipe gestora e pelos professores. É claro que essa criança tem de ser acolhida e ouvida. Porém apenas o consolo não basta. Esse ato, isolado, pode reforçar a condição de fragilidade da vítima e abrir espaço para que os insultos se repitam.
Segundo Luciene Paulino Tognetta, coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral da Unicamp (Gepem/Unicamp), é importante conversar bastante com quem foi agredido e incentivá-lo a assumir uma postura assertiva diante do autor para que consiga expor - de forma clara e sem ser hostil - as atitudes dele que o incomodam. O aluno não pode aceitar o ocorrido de forma passiva. Um pouco de indignação nessas horas ajuda, e isso pode ser estimulado pelo adulto que o atende, na medida em que mostra que é inadmissível ser alvo de qualquer tipo de violência.
O diretor ou o professor podem acompanhá-lo, caso ele não se sinta seguro para abordar sozinho o colega e encarar uma conversa com ele. Contudo, salvo em situações de muita violência, é positivo que ele tome a iniciativa por si só, já que o convívio diário entre provocador e provocado é inevitável. Vale também dialogar previamente com o agressor para que ele se coloque no lugar do outro. Sem esperar passar muito tempo, o gestor deve conversar novamente com os envolvidos para saber como anda a relação. Assim, é possível prevenir que o episódio se torne recorrente e passe a configurar bullying.
Publicado em GESTÃO ESCOLAR, Edição 016, OUTUBRO/NOVEMBRO 2011. Título original: Apenas consolar.
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