Sem saberem
a diferença entre brincadeira e agressão, crianças sofrem caladas e pais
ignoram o problema
Falta pouco para as férias acabarem, e, com elas, a paz de muitas crianças e adolescentes que, ao voltarem ao ambiente escolar, serão humilhados e agredidos pelos "colegas". É o chamado bullying.
"Essa prática sempre existiu e acontece muito. O que mudou nos últimos 20 anos foi o olhar, a percepção. Antes, humilhar um colega mais novo ou diferente era considerado normal. Muita gente, até hoje, ainda considera assim", diz o psiquiatra Wimer Bottura Jr., presidente do Comitê Multidisciplinar de Adolescência da APM (Associação Paulista de Medicina) e autor do livro "Filhos Saudáveis".
Além do erro de considerarem normais as agressões, pais e sociedade falham também na resolução do problema. "O primeiro procedimento da família do agressor é negar e, depois, punir", diz Wimer. "Os pais devem observar e ouvir mais os filhos, dialogar e procurar tratamento", recomenda.
Outro ponto falho é a identificação das agressões, tanto por parte de quem pratica quanto pelo lado de quem sofre. "É muito complicado determinar onde acaba a brincadeira e onde começa a agressão. As pessoas têm direito de brincar, fazer piada, mas é difícil diferenciar. Para algumas pessoas, causará sofrimento, para outras, não; por isso, é difícil pensar em uma regra como 'toda brincadeira que cause sofrimento é bullying", diz o médico.
Para Wimer, a melhor opção é observar e conhecer a pessoa antes de fazer brincadeiras, para ter certeza de que ela não ficará magoada.
Vítimas
É comum tratar como vítima apenas quem sofre as agressões, mas não é bem assim. De acordo com o médico, quem pratica o bullying também sofre. "De um modo geral, o agressor faz com o outro o que fazem com ele ou como ele se sente. Por outro lado, a vítima, que pode ter sido criada em um ambiente opressivo ou superprotetor, não reage e não conta", diz Wimer. "A criança pensa: 'Meu pai vai me bater, minha mãe vai desmaiar...'", diz o médico.
Além disso, segundo Wimer, o agredido tende a reconhecer o problema e buscar tratamento, mas o agressor, muitas vezes, não percebe o erro e não procura ajuda. Para ajudar os jovens a quebrarem o silêncio, vídeos, livros e peças de teatro começam a abordar o assunto (veja ao lado). É o caso da campanha "Chega de bullying", do Cartoon Network, que discute o problema durante a programação.
"Onde quer que aconteça, não importando a forma que assuma, o bullying é inaceitável. Há três lados envolvidos nas agressões: o agressor, a vítima e a testemunha. O que a campanha quer mostrar é que os três se sentem mal com o ato e podem fazer algo para evitar essa situação", disse Barry Koch, gerente-geral da emissora, ao apresentar a campanha, em novembro.
Identificação
Como o limite entre as brincadeiras e o bullying é tênue, pais e professores devem prestar atenção aos indícios do problema.
Crianças com tendência agressiva e companhias duvidosas merecem atenção. Até mesmo as coleções, com bonecos de guerra, por exemplo, podem dar pistas do comportamento. Já as pessoas agredidas costumam buscar motivos para faltar às aulas e, assim, escaparem do sofrimento.
Pesquisa
Apesar de muito disseminado nas escolas, o bullying vem ganhando espaço também na internet. Uma pesquisa da Ipsos/Reuters mostra que mais de 10% dos pais ao redor do mundo afirmam que seus filhos sofreram bullying na internet e quase um quarto conhece um jovem que já foi vítima das intimidações na rede. Daí a importância de prestar atenção nos filhos, sempre.
Lição de casa
Leitura: Livros como "bullying: Mentes Perigosas nas Escolas", da médica Ana Beatriz Barbosa Silva, e "Filhos Saudáveis", de Wimer Bottura Jr., ajudam a identificar o problema e abrir um canal com as crianças, para que elas contem o que está ocorrendo.
Vídeos: Com a crítica ao bullying mais difundida pela sociedade, vídeos com campanhas de diversos países ganham destaque no YouTube.
TV e teatro: A atenção para o bullying e as suas consequências - as constantes humilhações chegam a levar estudantes ao suicídio - também está na televisão, com a campanha do Cartoon Network, e no teatro, com a peça "Os Ruivos", escrita pelo ator Pedro Monteiro, que sofreu com o preconceito na infância.
Divulgação
Pais só costumam perceber que o filho sofre após serem convocados pela direção
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Fonte: Diário de São Paulo - Matéria Publicada no dia 21/01/2012
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