RIO - As
escolas parecem ter uma nova preocupação em relação ao bullying: além de educar
seus alunos para evitar esse tipo de violência física ou psicológica, as
instituições de ensino agora querem se proteger de possíveis prejuízos
financeiros causados por ações na Justiça movidas por famílias de vítimas.
Vinte colégios já contrataram um seguro contra >ita
— O novo
Código Civil entende que o colégio é responsável pela reparação civil de seus
estudantes. Nosso objetivo é dar proteção ao patrimônio das instituições —
explica Rodrigo Granetto, chefe de Responsabilidade Civil Profissional da Ace.
O seguro
pode ser contratado por universidades, colégios, escolas de idiomas, entre
outros tipos de instituições de ensino. O dinheiro pode ser usado para garantir
recursos financeiros na defesa jurídica de funcionários e também no pagamento
de indenizações estabelecidas pela Justiça às vítimas em casos de bullying. A
Ace não revela os nomes das escolas que fizeram o seguro
Prêmio
começa em R$ 100 mil e pode chegar a milhões
De acordo
com Granetto, o valor mínimo a ser pago ao segurado fica em torno de de R$ 100
mil, mas pode chegar a milhões de reais, dependendo do porte da escola, do
perfil de seus estudantes e do valor escolhido pela instituição.
Mãe de uma
vítima de bullying, Ellen Bianconi move uma ação contra o Colégio Nossa Senhora
da Piedade, no Encantado. Até agora a indenização estabelecida é de R$ 100 mil,
mas a escola apelou. Ela não aprova a ideia do seguro:
— Minha
filha teve o cabelo cortado e foi agredida por três alunos. Eu já havia conversado
com as professoras e a diretora sobre as agressões verbais, mas alegaram que
não podiam fazer nada. Se fossem bem preparadas para lidar com o tema, nada
disso teria acontecido. O seguro só deixa a instituição numa posição
confortável, mas não vai mudar nada — opina Ellen.
A longo
prazo, a Ace Seguradora quer mais do que vender apólices às instituições. O
plano é criar um banco de dados sobre a ocorrência de violência nas escolas
para ajudar os segurados com informações sobre os melhores procedimentos para
combater o bullying.
— Com isso,
vamos evitar as ações na Justiça, que podem obrigar o fechamento de escolas,
que, com condenações recorrentes, ficarão com imagem arranhada — diz Granetto.
O próprio
presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do
Rio de Janeiro (Sinepe Rio), Victor Nótrica, reconhece que a falta de
conhecimento sobre o problema é uma das maiores falhas das escolas. Para ele, o
seguro pode ser útil, mas a prevenção é mais eficaz.
— Se eu
fosse proprietário de uma escola, não contrataria o seguro de jeito nenhum.
Acho a melhor usar o dinheiro para investir na reeducação de alunos, na
capacitação de professores e na aproximação dos pais com os colégios — comenta.
Granetto
rebate esse tipo de crítica explicando que o seguro não foi criado como uma
solução para a violência nas escolas.
— O seguro
não tem a intenção de resolver o problema. É apenas uma das medidas a serem
adotadas nas instituições. Deve haver treinamento de funcionários e professores
e campanhas de conscientização dos estudantes, além da criação de um ambiente
favorável ao diálogo nas escolas.
Segundo a
Frente Parlamentar de Combate ao Bullying da Câmara dos Deputados, os números
apontam que 45% de jovens se envolvem com o problema, seja como vítima ou
agressor. No Rio, uma lei de setembro de 2010 obriga professores e funcionários
de escolas a denunciar violência contra estudantes a delegacias e conselhos
tutelares, caso contrário o colégio poderia ser multado. Até hoje, no entanto,
nenhuma escola foi condenada a pagar de três a 20 salários mínimos por não
cumprir a regra.
Vítima tem
pesadelos e precisa de psiquiatra
Para
Nótrica, a solução não é punir a escola. Ele, inclusive, faz críticas ao Código
Civil, que responsabiliza os colégios por esse tipo de violência:
— A escola
não deve ser condenada nos casos de bullying, mas, sim, o autor. O
>ita
Ellen
Bianconi discorda. Ela conta que a filha de 15 anos ficou traumatizada com o
bullying e responsabiliza a escola. A mãe criou um blog para tratar do tema:
http://bullyingnaoebrincadeiradcrianca.blogspot.com.
— Até hoje
minha filha é acompanhada por um psiquiatra. Ela tem pesadelos e precisa tomar
medicação para dormir. Minha luta é para que outras mães não passem pelo que
passei. No blog, recebo uns 20 pedidos de ajuda de pais por mês.
Fonte: Portal Online - Extra.Globo
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