Um aluno chega à sala da direção chorando porque foi xingado por um colega. O gestor passa a mão na cabeça dele e dá pouca atenção ao que aconteceu. Pode ser que seja um fato isolado e que não se repita. Mas é bom lembrar que o bullying - violência verbal ou física, feita de forma intencional e continuada, por um ou mais alunos a um ou mais colegas - sempre começa com pequenas atitudes desrespeitosas. Por isso, nenhum comportamento agressivo por parte das crianças ou dos jovens deve ser ignorado pela equipe gestora e pelos professores. É claro que essa criança tem de ser acolhida e ouvida. Porém apenas o consolo não basta. Esse ato, isolado, pode reforçar a condição de fragilidade da vítima e abrir espaço para que os insultos se repitam.
Segundo Luciene Paulino Tognetta, coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Moral da Unicamp (Gepem/Unicamp), é importante conversar bastante com quem foi agredido e incentivá-lo a assumir uma postura assertiva diante do autor para que consiga expor - de forma clara e sem ser hostil - as atitudes dele que o incomodam. O aluno não pode aceitar o ocorrido de forma passiva. Um pouco de indignação nessas horas ajuda, e isso pode ser estimulado pelo adulto que o atende, na medida em que mostra que é inadmissível ser alvo de qualquer tipo de violência.
O diretor ou o professor podem acompanhá-lo, caso ele não se sinta seguro para abordar sozinho o colega e encarar uma conversa com ele. Contudo, salvo em situações de muita violência, é positivo que ele tome a iniciativa por si só, já que o convívio diário entre provocador e provocado é inevitável. Vale também dialogar previamente com o agressor para que ele se coloque no lugar do outro. Sem esperar passar muito tempo, o gestor deve conversar novamente com os envolvidos para saber como anda a relação. Assim, é possível prevenir que o episódio se torne recorrente e passe a configurar bullying.
Publicado em GESTÃO ESCOLAR, Edição 016, OUTUBRO/NOVEMBRO 2011. Título original: Apenas consolar.
24 de nov. de 2011
9 de nov. de 2011
Lady Gaga cria ONG para combater bullying
A cantora Lady Gaga anunciou nesta quarta-feira o lançamento da Fundação Born This Way para apoiar jovens de todo o mundo a lutar contra o bullying, tendo a colaboração da Universidade de Harvard, entre outras instituições.
"Juntos esperamos estabelecer um padrão de coragem e amabilidade, assim como uma comunidade em nível mundial que proteja e encoraje outros contra o bullying e o abandono", disse a artista nova-iorquina de 25 anos, em comunicado.
A ONG promoverá iniciativas para ajudar os jovens em temas como confiança própria, luta contra o bullying e desenvolvimento profissional, além de utilizar "a mobilização social como um dos meios para conseguir uma mudança positiva", diz a nota.
A fundação - que também conta com o envolvimento da mãe da cantora, Cynthia Germanotta - recebe o nome do último disco de Lady Gaga e começará a atuar no ano que vem, com a colaboração da organização California Endowment e da Fundação MacArthur, além da Universidade de Harvard.
Em diversas ocasiões, a cantora expressou sua consternação pela morte de jovens vítimas de bullying na escola, como a do adolescente nova-iorquino Jamey Rodemeyer em setembro passado, aos 14 anos de idade.Após conhecer o caso de Jamey, a artista nova-iorquina disse pelo microblog Twitter que sentia "muita raiva" do incidente e admitiu que era "difícil sentir amor quando a crueldade leva a vida de alguém".
Fonte: Folha de São Paulo, EFE.
3 de nov. de 2011
A brincadeira que não tem graça
Quem nunca foi zoado ou zoou alguém na escola? Risadinhas, empurrões, fofocas, apelidos como “bola”, “rolha de poço”, “quatro-olhos”. Todo mundo já testemunhou uma dessas “brincadeirinhas” ou foi vítima delas. Mas esse comportamento, considerado normal por muitos pais, alunos e até professores, está longe de ser inocente. Ele é tão comum entre crianças e adolescentes que recebe até um nome especial: bullying. Trata-se de um termo em inglês utilizado para designar a prática de atos agressivos entre estudantes. Traduzido ao pé da letra, seria algo como intimidação. Trocando em miúdos: quem sofre com o bullying é aquele aluno perseguido, humilhado, intimidado.
E isso não deve ser encarado como brincadeira de criança. Especialistas revelam que esse fenômeno, que acontece no mundo todo, pode provocar nas vítimas desde diminuição na auto-estima até o suicídio. “bullying diz respeito a atitudes agressivas, intencionais e repetidas praticadas por um ou mais alunos contra outro. Portanto, não se trata de brincadeiras ou desentendimentos eventuais. Os estudantes que são alvos de bullyingsofrem esse tipo de agressão sistematicamente”, explica o médico Aramis Lopes Neto, coordenador do primeiro estudo feito no Brasil a respeito desse assunto — “Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes”, realizado pela Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). Segundo Aramis, “para os alvos de bullying, as conseqüências podem ser depressão, angústia, baixa auto-estima, estresse, absentismo ou evasão escolar, atitudes de autoflagelação e suicídio, enquanto os autores dessa prática podem adotar comportamentos de risco, atitudes delinqüentes ou criminosas e acabar tornando-se adultos violentos”.
A pesquisa da Abrapia, que foi realizada com alunos de escolas de Ensino Fundamental do Rio de Janeiro, apresenta dados como o número de crianças e adolescentes que já foram vítimas de alguma modalidade de bullying, que inclui, além das condutas descritas anteriormente, discriminação, difamação e isolamento. O objetivo do estudo é ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar que essas situações aconteçam. “A pesquisa que realizamos revela que 40,5% dos 5.870 alunos entrevistados estão diretamente envolvidos nesse tipo de violência, como autores ou vítimas dele”, explica Aramis.
A denominação dessa prática como bullying, talvez até por ser um termo estrangeiro, ainda causa certa polêmica entre estudiosos do assunto. Para a socióloga e vice-coordenadora do Observatório de Violências nas Escolas — Brasil, Miriam Abramovay, a prática do bullying não é o que existe no país. “O que temos aqui é a violência escolar.
Se nós substituirmos a questão da violência na escola apenas pela palavra bullying, que trata apenas de intimidação, estaremos importando um termo e esvaziando uma discussão de dois anos sobre a violência nas escolas”, opina a coordenadora.
Mas, tenha o nome que tiver, não é difícil encontrar exemplos de casos em que esse tipo de violência tenha acarretado conseqüências graves no Brasil.
Em janeiro de 2003, Edimar Aparecido Freitas, de 18 anos, invadiu a escola onde havia estudado, no município de Taiúva, em São Paulo, com um revólver na mão. Ele feriu gravemente cinco alunos e, em seguida, matou-se. Obeso na infância e adolescência, ele era motivo de piada entre os colegas.
Na Bahia, em fevereiro de 2004, um adolescente de 17 anos, armado com um revólver, matou um colega e a secretária da escola de informática onde estudou. O adolescente foi preso. O delegado que investigou o caso disse que o menino sofria algumas brincadeiras que ocasionavam certo rebaixamento de sua personalidade.
Vale lembrar que os episódios que terminam em homicídio ou suicídio são raros e que não são poucas as vítimas do bullying que, por medo ou vergonha, sofrem em silêncio.
Além de haver alguns casos com desfechos trágicos, como os citados, esse tipo de prática também está preocupando por atingir faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos primeiros anos da escolarização. Dados recentes mostram sua disseminação por todas as classes sociais e apontam uma tendência para o aumento rápido desse comportamento com o avanço da idade dos alunos. “Diversos trabalhos internacionais têm demonstrado que a prática de bullying pode ocorrer a partir dos 3 anos de idade, quando a intencionalidade desses atos já pode ser observada”, afirma o coordenador da Abrapia.
Por Diogo Dreyer
26 de out. de 2011
Caso Casey Heynes: o bullying e a omissão da escola
Uma cena de bullying gravada em vídeo se espalhou rapidamente pela internet e ganhou destaque na imprensa mundial. As imagens, registradas em uma escola australiana, mostram o momento em que Casey Heynes - aluno de 15 anos constantemente agredido pelos colegas - se rebela e parte para cima de um de seus agressores. Com o sucesso na rede, Heynes passou de vítima a herói. Alguns dias depois, os dois garotos eram entrevistados em programas de televisão, apresentando sua versão dos fatos (assista aos vídeos abaixo).
No calor da repercussão e na maneira superficial como o tema foi tratado pelas emissoras, perguntas fundamentais ficaram sem resposta. Qual o papel da escola na história? O que levou o garoto à reação extrema? Há, de fato, algum herói? Para responder a essas e outras dúvidas, NOVA ESCOLA ouviu as pesquisadoras Adriana Ramos e Luciene Tognetta, do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral (GEPEM) da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). As considerações das especialistas têm como objetivo mostrar a professores, gestores e pais quais ensinamentos podem ser tirados do fato e como usá-lo no combate - constante - ao bullying.
O papel da escola
Pelos comentários publicados na internet sobre o vídeo e pela própria maneira como as reportagens foram editadas, percebe-se que quase ninguém questionou o papel de professores e gestores da escola australiana. As especialistas da Unicamp explicam que, por ser um problema que ocorre entre os alunos, o bullying pode mesmo demorar para ser detectado. "Em muitos casos, quando pais e professores ficam sabendo, a criança já sofre há pelo menos dois anos", comenta Adriana Ramos.
Essa dificuldade, no entanto, não deve ser usada como desculpa para a escola se eximir de responsabilidade. No caso australiano, há fortes indícios de que professores e gestores foram omissos. "Não é possível que ninguém viu o menino passar por tanta humilhação", comenta Luciene Tognetta. Tudo leva a crer que a escola não tomou as atitudes necessárias nem antes nem depois de o problema aparecer.
A reação da diretoria ao saber da briga reforça essa suspeita. Ao saber do ocorrido, a escola optou por suspender os dois alunos. Com isso, deixou de lado todas as características do bullying e passou a lidar com o problema como se fosse uma briga comum - sem dar importância para as razões que levaram Heynes ao ato de violência. "Ao suspender os dois, a escola não evidencia que, por trás da violência, está o bullying, nem dá a eles a chance de refletir sobre a questão", diz Adriana.
Como evitar o bullying?
É preciso que a escola tome providências não só para resolver os casos de bullying já diagnosticados, mas principalmente para evitar os novos. A questão deve ser vista como parte de um trabalho contínuo de construção de valores. "Não adianta, por exemplo, falar sobre bullying se os próprios professores ridicularizam ou humilham alunos em classe", alerta Adriana.
É preciso trazer o tema para o cotidiano da escola e discutir as relações interpessoais. Questionar os estudantes sobre os critérios que adotam para valorizar ou desprezar um colega, por exemplo, é uma boa estratégia. Com isso, é possível levá-los a refletir sobre as consequências de humilhar alguém para ser aceito pelo grupo. Colocações como essas devem fazer parte das conversas com os alunos antes mesmo de o bullying se manifestar.
Além do diálogo dentro da escola, é importante estabelecer um bom canal de comunicação com os pais. Muitos educadores caem no erro de transferir a responsabilidade sobre as atitudes dos estudantes para as famílias, que em geral não têm informação suficiente para lidar com a questão. Nas entrevistas concedidas pelos pais dos garotos australianos, fica clara a sensação de impotência. "Em geral, os pais não sabem o que fazer e é papel da escola mostrar a eles como agir", defende Luciene. Isso não quer dizer assumir toda a responsabilidade pela Educação das crianças, mas compartilhá-la com as famílias e buscar juntos a solução.
Como lidar com o bullying?
Quando a escola percebe sinais de bullying, há algumas ações importantes que precisam ser tomadas. "A primeira coisa a fazer é entender como o bullying acontece dentro do ambiente escolar", explica Adriana. Uma ideia é aplicar um questionário anônimo aos alunos com perguntas relacionadas ao tema. Feito esse primeiro levantamento, pode-se criar grupos de estudo com os professores para que eles compreendam o que é o bullying e como lidar com ele.
A terceira etapa do trabalho é o diálogo com os alunos. "Grupos de apoio, filmes, debates, discussões sobre o que caracteriza o bullying e as consequências dele são boas maneiras de abordar o tema com a classe", defende Adriana. Nesses momentos, vale propor atividades em que os estudantes se coloquem no papel tanto do agressor quanto da vítima e do expectador e mostrem como se sentem.
Como discutir o caso Casey Heynes com os alunos?
A história da escola australiana pode ser usada como ponto de partida para uma discussão em sala de aula. Mas, para tanto, é fundamental fugir do senso comum e levar a turma a refletir sobre como a situação chegou àquele ponto. Geralmente, a tendência das crianças é dizer apenas se o menino está certo ou errado e se concordam ou não com a atitude. Cabe ao professor ampliar a discussão e buscar relações com o dia a dia dos alunos.
Uma sugestão é começar a análise falando sobre a atitude de Heynes. Como em todas as histórias de bullying, a reação do garoto é o resultado de um processo de humilhação que começou anos antes. Em seu depoimento, ele conta que sofria agressões há mais de três anos e explica que todo o medo e a raiva que sentia o levaram a uma explosão de agressividade.
Mais do que pedir que a turma julgue o menino, vale discutir a importância de ele tomar uma atitude. Luciene explica que reagir ao bullying é um passo importante no combate ao problema. "Indignar-se e reagir são ações fundamentais para que o aluno aprenda a lidar com os medos e consiga se impor", diz ela. Isso não quer dizer, é claro, que a escola deve incitar a violência. Há outras maneiras de o aluno se colocar e dizer não às agressões sem ter que usar a força.
Além de analisar a reação de Heynes, é importante observar as atitudes de Richard Gale - o garoto que aparece nas imagens praticando as agressões -, dos colegas que assistem à cena e dão risada e do garoto que grava (e parece narrar) o vídeo. "O bullying só acontece se a criança que o pratica tem plateia", explica Adriana. Mesmo sem participar, quem assiste à cena e quem usa os meios digitais para divulgá-la legitima a agressão e dá força para que ela aconteça. "Se a escola quer combater o bullying, precisa fazer um trabalho voltado também para os que assistem", defende a especialista.
Por fim, é necessário mostrar aos alunos a gravidade do problema e levá-los a pensar sobre as consequências de "brincadeiras" e humilhações que se repetem no dia a dia escola. "Cabe ao professor refletir com os alunos sobre a história não para justificar o que foi feito, mas para fazer com que a turma entenda que o bullying leva a atitudes extremas e precisa ser levado a sério".
Além de analisar a reação de Heynes, é importante observar as atitudes de Richard Gale - o garoto que aparece nas imagens praticando as agressões -, dos colegas que assistem à cena e dão risada e do garoto que grava (e parece narrar) o vídeo. "O bullying só acontece se a criança que o pratica tem plateia", explica Adriana. Mesmo sem participar, quem assiste à cena e quem usa os meios digitais para divulgá-la legitima a agressão e dá força para que ela aconteça. "Se a escola quer combater o bullying, precisa fazer um trabalho voltado também para os que assistem", defende a especialista.
Por fim, é necessário mostrar aos alunos a gravidade do problema e levá-los a pensar sobre as consequências de "brincadeiras" e humilhações que se repetem no dia a dia escola. "Cabe ao professor refletir com os alunos sobre a história não para justificar o que foi feito, mas para fazer com que a turma entenda que o bullying leva a atitudes extremas e precisa ser levado a sério".
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