15 de fev. de 2012

As marcas indeléveis do bullying

Bullying é o gerúndio do verbo to bully, que literalmente tem acepção de intimidar, ameaçar. São atos de violência física ou psicológica, repetitivos e intencionais, entre pares, praticados por um ou vários indivíduos, contra outro, em uma relação de desequilíbrio de poder.
A vítima sofre pela rejeição, pelo não pertencimento ao grupo. É um sentimento que dói intensamente, mais do que se infere das palavras do filósofo norte-americano William James (1842-1910): “O princípio mais profundamente enraizado na natureza humana é a ânsia de ser apreciado.”
Onde mais se pratica o bullying é na escola e esta é um laboratório para a vida adulta. Evidentemente o mundo do trabalho é competitivo e em determinados momentos a tolerância às hostilidades é necessária. Esse aprendizado deve ser gradual – não pontualmente intenso, uma característica do bullying – para que a consciência e a razão introjetem os ensinamentos de que o caminho a ser percorrido na vida não é plano, florido e pavimentado.
Quem não foi alvo de apelidos, gozações, ofensas em sua trajetória escolar? Em boa medida, a escola deve punir. No entanto, a palavra bullying está sendo empregada indiscriminadamente. O ambiente escolar é um cadinho dos humanos e é ilusão aspirar a que estudantes se comportem como noviças numa clausura.
Num crescendo, o educando vai assimilando as oportunas lições das alegrias e agruras na convivência com outras crianças e adolescentes e destarte torna-se mais robusto para o enfrentamento dos desafios e frustrações. As raízes de um carvalho só se fortalecem pala ação das inclementes rajadas de vento. E cada vitória tem o sabor de uma perdoável vingança, como as palavras de Kate Winslet – vítima de bullying por ser uma adolescente rechonchudinha – ao receber o Oscar de melhor atriz, por sua atuação em Titanic: “Lá do palco, quando olhei a plateia, não vi nenhum dos meus agressores.”
É um exemplo de superação, embora as ofensas que tenha sofrido certamente não representem um ponto fora da curva. Neste espectro, há um outro extremo, fruto de bullies (agressores) sistemáticos e que agem sadicamente sobre vítimas portadoras de desequilíbrios ou com elevada sensibilidade. É um solo minado, com consequências nefastas, como a tragédia numa escola de Realengo (RJ), em 7/4/11, quando 12 alunos foram assassinados por um esquizofrênico e sociopata. Wellington de Oliveira, franzino e introspectivo, foi alvo constante na escola de seus colegas algozes: piadas e apelidos depreciativos; sua cabeça foi enfiada num vaso sanitário; jogaram-no de cabeça para baixo dentro de uma lata de lixo e tamparam.
Um legado trágico sucede suas palavras escritas na véspera: “Muitas vezes aconteceu comigo de ser agredido por um grupo e todos os que estavam por perto se divertiam com as humilhações que eu sofria, sem se importar com os meus sentimentos. Embora meus dedos sejam responsáveis por puxar o gatilho, essas pessoas são responsáveis por todas estas mortes, inclusive a minha.”
Essa violência repetida e praticada entre iguais deixaram marcas leves em Kate e profundas em Wellington. São marcas que geraram sofrimento, provocadas pela insensibilidade moral do bully (agressor). Nós, educadores, devemos atacar as causas para que a consciência não nos acuse quando vierem as consequências. A intensidade do bullying indica o quanto moralmente a escola está comprometida. É responsabilidade dos gestores e professores duas frentes de combate: prevenção e ação. É preventiva a implementação de uma cultura de respeito, tolerância e aceitação de que somos diversos, mas não adversos. Ação vigilante, pró-ativa e punitiva sobre os agressores. Em resumo: ação como remédio e prevenção pelo comportamento ético.


Jacir José Venturi

Foi professor da UFPR e da PUCPR. Autor dos livros: Álgebra Vetorial e Geometria Analítica (9.ª ed.); Cônicas e Quádricas (5.ª ed.) e Da Sabedoria Clássica à Popular. 

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