25 de abr. de 2012

A busca pela aceitação

O corpo começa a mudar, o rosto enche de acne. O período de transição entre a infância e a adolescência pode vir também acompanhado do temor de ser rejeitado pelos colegas e virar alvo de brincadeiras e humilhações. Esse é o tema da sexta reportagem da série Meu medo é...– Será que vou ser aceito?


Dos nove aos 12 anos, essa é uma das questões que mais atormentam as crianças. É um período complicado de transição, no qual o corpo está se transformando. Ele cresce de forma desigual, pelos surgem, acnes e espinhas irrompem, emoções transbordam. No meio do caminho entre a infância e a adolescência, o indivíduo vive uma crise de autoimagem. Olha no espelho e não se reconhece. O medo típico desse período é o da rejeição social.
O temor é tal que se refletiu nesta reportagem: foi difícil encontrar alguém que aceitasse aparecer como personagem. O fantasma do estigma é muito grande.


– A própria criança está se estranhando. Às vezes se isola para não ser vista. Ela pode manifestar essa situação como medo. Pode temer que o professor pegue no pé ou que os colegas não queiram mais ser seus amigos – diz a psicóloga Solange Lompa Truda. Normalmente, o medo de rejeição está relacionado à baixa autoestima. Ele começa a preocupar quando traz consequências físicas, emocionais e de comportamento. A psicóloga Daniela Dal-Bó Noschang aponta sinais como dores (de cabeça ou barriga), choro, irritabilidade, tristeza, retraimento ou agressividade.


– Os sintomas são uma resposta à demanda que não é atendida – diz ela. Nessa crise de identidade, a criança também tende a formar grupos fechados dentro da escola. Cada um se une com os amigos em quem se projeta. E rechaça os outros. Essa situação tem um subproduto problemático, o bullying.


– Como não estão conseguindo lidar com emoções de forma equilibrada, as crianças começam a entrar em disputas e agressões – diz Solange.

Por Itamar Melo

Fonte: Zero Hora Online - Publicação: 09/04/2012

18 de abr. de 2012

Livros infantis auxiliam na conscientização sobre o bullying*

Obras apresentam diferentes situações sobre o tema e são ferramentas que contribuem para a redução de casos de agressão física ou verbal

Considerada uma das formas de violência que mais cresce no mundo, o bullying se tornou comum entre alunos e colegas em milhares de escolas e é caracterizado por agressões intencionais, verbais ou físicas, de forma repetitiva. Com o início do ano escolar, a questão volta a ser tema constante de debates sobre como tais atitudes podem afetar emocional e fisicamente uma criança. Além do isolamento ou queda no rendimento escolar, as vítimas do bullying apresentam, muitas vezes, diferentes doenças e mudanças nos traços de personalidade. 

Existem diversas alternativas que contribuem para a redução do número de casos de bullying.  A principal é conscientização das crianças, desde pequenas, pelos pais e familiares. A fim de auxiliar neste processo, a Editora Vale das Letras, de Blumenau (SC), acaba de lançar oito livros com o foco no bullying. Cada uma das obras aborda uma situação específica, relacionada à realidade de quem agride ou de quem sofre a agressão. “As histórias apresentam diferentes olhares, com a intenção de ajudar na educação das crianças e evitar ações ligadas ao bullying. Por meio destes contos, fica mais fácil explicar aos pequenos que nem todas as brincadeiras com os colegas são saudáveis”, explica Eduardo Reis Silva, sócio da editora. 

Saiba mais sobre os livros

Escrito pela americana Francesca Simon, o livro Hugo e a Gangue dos Sapos mostra a história de um pequeno sapinho que é maltratado por outros seres da mesma espécie e aprende com o pato uma boa lição de como se defender sozinho. Na mesma linha, com textos de Claire Alexander, Luci e o Touro Valentão apresenta uma difícil relação entre dois colegas de turma e como esta realidade pode ser mudada. 

Entre os lançamentos da Editora Vale das Letras, existem outros seis livros, escritos pela catarinense Nana Toledo, que abordam o bullying e as suas formas mais comuns. Por meio de contos divertidos e histórias com animais, a autora mostra que situações como zombar ou criar um apelido para um amigo são comportamentos que devem ser evitados.  “Passamos por uma série de pesquisas e discussões com a equipe pedagógica. Sempre tivemos muito cuidado em como o bullying seria tratado, afinal é um assunto bastante polêmico. Surgiram inspirações e experiências e, por meio de uma linguagem lúdica, os livros abordam os conflitos dos personagens, de forma simples e diretas, como as próprias crianças”, explica a autora. 

Sinopses

Hugo e a Gangue dos Sapos
Texto: Francesca Simon - Ilustração: Caroline Jayne Church
 Hugo odeia ser maltratado pela malvada gangue dos sapos, mas o que ele pode fazer? Ele é apenas um pequeno sapinho com um coaxado bem baixinho. Só que o pato teve uma grande ideia para dar aos sapos uma boa lição! Será que Hugo aprenderá a se defender sozinho?


Luci e o Touro Valentão
Texto e Ilustração: Claire Alexander
Luci gosta de todos na creche, com exceção de Thomas, que é um grande valentão. Ele destruiu a bela escultura de Luci, quebrou seus lápis e ainda avisou para ela não contar nada para ninguém, senão… O que Luci deve fazer? Uma tocante história sobre como lidar com os valentões.

Zeca no Dia do Brinquedo
Texto: Nana Toledo – Ilustração: Guilherme Karsten
Todos estão se divertindo e brincando no dia do brinquedo na floresta. Os animais emprestam seus brinquedos favoritos uns aos outros e é a maior curtição. Mas Zeca, um macaquinho mal-humorado, não quer emprestar sua peteca. Ele trata os outros animais com grosseria e acaba perdendo seus amigos, até que sua peteca cai no chão. Os animais começam a brincar, e ao ver todos os seus amigos brincando, o macaquinho muda de opinião e se junta à diversão. 





O Touro e o Porquinho
Texto: Nana Toledo – Ilustração: Guilherme Karsten
Na fazenda do seu Deodato vivem muitos bichinhos, inclusive um touro valente e um porquinho que vive sujo de lama. Os dois sofrem com os comentários irônicos que outros bichos costumam fazer pelo jeito de ser deles. Mas a Dona Pata, vendo os colegas tão tristes com aquela situação, resolve ajudar. Com os bons conselhos de sua nova amiga, o touro e o porquinho voltam a sorrir e surpreendem a todos na fazenda.



As Cores da Zebra
Texto: Nana Toledo – Ilustração: Guilherme Karsten
A zebra não sabe ao certo a sua cor, por isso os animais da selva adoram zombar dela. A onça vive fazendo piadas, e o problema é que a maioria dos animais acha o máximo tudo o que ela faz. Mas a arara e o macaco branco mudam a situação ao contar para o leão o que está acontecendo com sua amiga zebra. O rei dos animais dá uma boa lição na onça e ensina aos outros animais a não terem medo de contar para ele qualquer problema que tiverem.



Me Chame pelo Nome
Texto: Nana Toledo – Ilustração: Sole Otero
 Há pessoas que adoram dar apelidos para os amigos. Mas algumas vezes os apelidos podem ser de mau gosto ou até preconceituosos. Ana Clara sabe muito bem disso e só chama os outros pelo nome ou pelos apelidos que eles gostam de ser chamados. Nesta história cativante, Ana Clara nos ensina uma ótima lição sobre respeito e amizade.


 
A Mensagem de Augusto
Texto: Nana Toledo – Ilustração: Sole Otero
Augusto estava animado com o início do ano, pois ele iria estudar em uma nova escola. Mas quando as aulas iniciam, o menino começa a chegar em casa cada vez mais triste e cabisbaixo. Os pais de Augusto não sabem que seu filho não quer mais ir à escola por causa das ameaças de uns garotos valentões. Mas assim que a mãe de Augusto descobre o problema de seu filho, ela e o pai do menino resolvem conversar com a diretora da escola. Assim, Augusto descobre que o problema poderia estar resolvido desde o começo e de forma bem simples, se ele tivesse conversado com seus pais.

 

O Príncipe Ranieri
Texto: Nana Toledo – Ilustração: Sole Otero 
O príncipe Ranieri adora pedir ao rei os presentes mais difíceis de conseguir. Ele não respeita ninguém e sempre implica com Rufinus, um garoto humilde de seu reino. Ranieri faz muitas maldades, mas na realidade tudo que ele deseja é um pouco da atenção de seu pai, que está sempre ocupado. Felizmente, o rei Herculano acaba percebendo que além de cuidar do reino, também é muito importante cuidar da família. 

11 de abr. de 2012

Quando a criança não aprende, o que fazer?

Quando o rendimento escolar dos filhos diminui, os pais devem prestar atenção, pois isso pode ser um sinal de que algo não vai bem. É normal, em algum momento da vida escolar, que a criança não responda como o esperado e tire notas baixas. Mas, se o rendimento escolar da criança mudou repentinamente ou se desde o início de sua escolarização ela apresenta dificuldades de aprendizagem, é bom investigar o que está causando isso. São inúmeros os fatores que interferem na aprendizagem de uma pessoa. Identificar e tratar os problemas de aprendizagem são fundamentais para que a criança possa aprender. “Dificuldades de aprendizagem” é uma expressão genérica, usada para nomear os fatores que interferem negativamente em situações nas quais a pessoa deveria aprender algo. Uma dificuldade de aprendizagem pode ser de origem emocional, físico-orgânica ou social. Acontece com pessoas em diversas fases da vida, mas é no ambiente escolar que é mais destacada, pois é nessa situação que a aprendizagem é mais cobrada e pode ser verificada.
O bullying é um dos fatores frequentes das dificuldades de aprendizagem escolar, pois quando a criança é perseguida e agredida física e moralmente, ela  sente-se amedrontada e sem ânimo para frequentar a escola. Na maioria das vezes ela não consegue expressar o que sente. Além de causar grande sofrimento psíquico, o bullying interfere diretamente nos processos de aprendizagem.

Questões de ordem emocional como estresse ou traumas recentes também podem atrapalhar o rendimento escolar. Além desses fatores, há outras questões que também podem ser causas das dificuldades de aprendizagem: dislexia, dislalia, discalculia, metodologia inadequada. Para resolver o problema, o primeiro passo é investigar o que está causando a dificuldade e, então, realizar a intervenção (tratamento).
Um psicopedagogo pode ajudar nessa tarefa, pois através de técnicas específicas o profissional consegue fazer um diagnóstico do problema e indicar o tratamento mais adequado.
Por: Cristiane Ferreira, psicopedagoga
Fonte: Diário Popular

4 de abr. de 2012

Bullying: o mal sistematizado


Não condenamos alguém por sentir ira ou ódio, condenamos o efeito de tal emoção
O ser humano é mau, basta olhar ao nosso redor, basta olhar a história. Normalmente definimos o agressor como covarde. Covardia por definição é a falta de coragem. Portanto, é preciso redefinir esse ato de agredir. Chamemos, pois, de crueldade. É cruel o individuo que busca se fortalecer na fraqueza do outro. É cruel quem em sua ação, visa o mal do outro. Cruel e inseguro, a agressividade esconde a fragilidade interna. Sua pequenez se manifesta aos brados, a violência é uma forma de calar essa voz interna. Tentando provar a si mesmo que é forte, grande. Em última instância, poderíamos até pensar que esse ser cruel é corajoso, contrapondo-se ao covarde. Neste caso teríamos uma virtude a serviço do mal. Todavia, visto que toda virtude visa o bem, este ato não é virtuoso, não é corajoso, é sim, maldoso.

Também não devemos chamar esse ato de insano, já que por trás do mal, subjaz a racionalidade. A razão nos leva ao bem, a razão nos conduz ao mal. Poderíamos dizer que o mal tem mais de paixão (ódio, ira, cólera, vingança), e menos de razão. Sim, mas a razão está presente o tempo todo. Existe uma premeditação no bullying, que leva à sistemática. Engendra-se na mente e põe-se em prática no mundo real. É cruel fazer o mal ao outro para que eu me sinta bem. É isso o que faz esse algoz. Razão e coragem a serviço do mal, é maldade.

O sujeito ativo do bullying, na maior parte dos casos, esconde, no presente ou numa época remota, o fato de que também ele é, ou foi sujeito passivo do bullying. É somar maldade a maldade. Já que fui humilhado, também humilho e me redimo de meu ultraje. Engodo atroz. Tal indivíduo não consegue mais que fugazes momentos de sadismo, um prazer passageiro, com o objetivo de autoafirmação. Tão logo o efeito se desvaneça, volta a exercitar sua crueldade. É como o efeito de uma droga, e sempre com necessidades cada vez maiores.

O agressor é, via de regra, um indivíduo agregado a um grupo, com isso seu medo é mitigado e se sente mais a vontade para praticar o mal. Com isso, se faz necessário verificar o grupo ao qual pertence e também o núcleo familiar ao qual está inserido. Por vezes pais violentos, castradores, inseguros, arrogantes e coléricos, servem de referencia. Portanto, a saída para o sujeito ativo do bullying é um trabalho contextual. É necessário averiguar o ambiente em que está inserido e identificar as possíveis causas de tal transtorno. Com isso, pode se fazer um redirecionamento de sua forma de pensar e agir. Mostrar saídas saudáveis para seus próprios sentimentos. Não condenamos alguém por sentir ira ou ódio, condenamos o efeito de tal emoção. A razão deve conduzí-lo ao bem, seja de si mesmo, do outro ou da natureza.

*Odair J. Comin é Psicólogo Clínico e Escritor. Autor do livro "Mestre das Emoções"
Fonte: Odair J. Comin*