Não condenamos alguém por sentir ira ou
ódio, condenamos o efeito de tal emoção
O ser humano é mau, basta olhar ao nosso redor, basta olhar a história.
Normalmente definimos o agressor como covarde. Covardia por definição é a falta
de coragem. Portanto, é preciso redefinir esse ato de agredir. Chamemos, pois,
de crueldade. É cruel o individuo que busca se fortalecer na fraqueza do outro.
É cruel quem em sua ação, visa o mal do outro. Cruel e inseguro, a
agressividade esconde a fragilidade interna. Sua pequenez se manifesta aos
brados, a violência é uma forma de calar essa voz interna. Tentando provar a si
mesmo que é forte, grande. Em última instância, poderíamos até pensar que esse
ser cruel é corajoso, contrapondo-se ao covarde. Neste caso teríamos uma
virtude a serviço do mal. Todavia, visto que toda virtude visa o bem, este ato
não é virtuoso, não é corajoso, é sim, maldoso.
Também não devemos chamar esse ato de insano, já que por trás do mal,
subjaz a racionalidade. A razão nos leva ao bem, a razão nos conduz ao mal.
Poderíamos dizer que o mal tem mais de paixão (ódio, ira, cólera, vingança), e
menos de razão. Sim, mas a razão está presente o tempo todo. Existe uma
premeditação no bullying, que leva à sistemática. Engendra-se na mente e põe-se
em prática no mundo real. É cruel fazer o mal ao outro para que eu me sinta
bem. É isso o que faz esse algoz. Razão e coragem a serviço do mal, é maldade.
O sujeito ativo do bullying, na maior parte dos casos, esconde, no
presente ou numa época remota, o fato de que também ele é, ou foi sujeito
passivo do bullying. É somar maldade a maldade. Já que fui humilhado, também
humilho e me redimo de meu ultraje. Engodo atroz. Tal indivíduo não consegue
mais que fugazes momentos de sadismo, um prazer passageiro, com o objetivo de
autoafirmação. Tão logo o efeito se desvaneça, volta a exercitar sua crueldade.
É como o efeito de uma droga, e sempre com necessidades cada vez maiores.
O agressor é, via de regra, um indivíduo agregado a um grupo, com isso
seu medo é mitigado e se sente mais a vontade para praticar o mal. Com isso, se
faz necessário verificar o grupo ao qual pertence e também o núcleo familiar ao
qual está inserido. Por vezes pais violentos, castradores, inseguros,
arrogantes e coléricos, servem de referencia. Portanto, a saída para o sujeito
ativo do bullying é um trabalho contextual. É necessário averiguar o ambiente
em que está inserido e identificar as possíveis causas de tal transtorno. Com
isso, pode se fazer um redirecionamento de sua forma de pensar e agir. Mostrar
saídas saudáveis para seus próprios sentimentos. Não condenamos alguém por
sentir ira ou ódio, condenamos o efeito de tal emoção. A razão deve conduzí-lo
ao bem, seja de si mesmo, do outro ou da natureza.
*Odair J. Comin é Psicólogo Clínico e Escritor.
Autor do livro "Mestre das Emoções"
Fonte: Odair J. Comin*
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