A Cultura do sentimento de empatia nas relações interpessoais. Esse foi o desafio que o Colégio Marista Sant´Ana de Uruguaiana assumiu como prática contra o Bullying entre as crianças e jovens que convivem no espaço escolar.
Nosso compromisso, como Direção e Educadores, é o de construir e cultivar, vigilantemente, um processo de conscientização sobre as dores emocionais e físicas que resultam de olhares de indiferença, de exclusão, agressões verbais e físicas, apelidos, deboches diretos e indiretos, provocações de qualquer espécie e que têm se revelado tão comuns no convívio entre crianças e jovens. Entendemos que é preciso tocar o coração, sensibilizar, provocar o sentimento de empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro para avaliar, de forma mais próxima possível, o que e como o outro está sentindo. E isso se constrói no processo de uma rede de diálogo que se cria na administração de conflitos, onde os implicados podem expressar seus sentimentos e os motivos que o levam a agir de determinada maneira.
Em nosso colégio, vimos adotando alguns métodos que estão apresentando resultados concretos, observáveis. Não que tenhamos eliminado essas situações, elas continuam ocorrendo e sempre surgirão, até porque as escolas recebem, periodicamente, alunos novos, que vêm com uma cultura própria, com hábitos e valores que têm a ver com sua história de vida; esses alunos não conhecem, ainda, a cultura que já se construiu na escola e tem-se que reiniciar o trabalho e os projetos de prevenção a cada ano. Por isso, o trabalho contra o Bullying e na linha da formação humana é um processo, é contínuo, precisa renovar-se permanentemente.
Ações que, costumeiramente, fazemos:
1. Nas reuniões de início de ano com os pais, dentro do tema das normas de convivência da escola, mostramos claramente a posição da Direção àqueles que vierem praticar atos de violência de qualquer espécie e informamos, com clareza, que o aluno que assim proceder, sofrerá punição prevista no Regimento Escolar. Trabalhamos com a conscientização sobre o conteúdo do artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que diz: “ É Dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.” Dessa forma, os pais entendem o dever irrefutável, da Direção, de agir com rigor diante de situações de Bullying, na escola.
2. Sessões coletivas no início do ano escolar, pelo Serviço de Orientação Educacional, com as turmas, para sensibilizar e conscientizar sobre o sentido dessa regra de convivência ser cobrada com tanto rigor pela escola. As crianças e jovens assistem a filmes, documentários, depoimentos, travam debates, sempre mediados pela responsável pelo Serviço de Orientação Educacional, com reflexões e orientações pertinentes.
3. Aplicação do método dialógico na resolução de conflitos pelos serviços de Coordenação e Direção - Quando se evidencia um caso de Bullying na escola, ou qualquer outro conflito, os envolvidos são chamados para uma roda de diálogo e inicia-se o processo do método dialógico de resolução de conflito. Os alunos são reunidos pela Orientadora Educacional e, dependendo da gravidade da situação, a Direção está presente na roda de diálogo. Nesse processo, a criança ou o jovem que se sente ofendido, tem a palavra. Ninguém poderá interrompê-lo enquanto expressa seus sentimentos, podendo dizer quais palavras ou gestos, de modo bem especifico, causaram-lhe mágoa, ressentimentos. O mediador deve estar preparado porque, inevitavelmente, brotará o choro ou outras reações como o silêncio, então, deverá saber estimular a expressão desses sentimentos reprimidos, da forma mais apropriada possível. Num segundo momento, o agressor é ouvido, sendo incentivado a falar, não só sobre os motivos que o levaram a agir assim, mas sobre como se sente, agora, que ouviu toda a dor que causou no colega. Num terceiro momento o mediador entra em ação com o processo reflexivo sobre os sentimentos expostos, com questionamentos que levem os envolvidos a um nível de compreensão da situação e dispor-se à conciliação. Quando é um caso simples, o resultado do método dialógico, normalmente, é eficaz e conduz para uma conciliação. Os envolvidos desprevinem os espíritos, acolhem as desculpas e retoma-se a relação a partir dali, com a combinação de não haver reincidências. Há casos, mais graves, que, além desse processo todo do método dialógico, há, como conseqüência do ato, a aplicação de uma punição pela Direção. Isso tem um efeito limitador. Ajuda os jovens a desenvolverem autocontrole emocional porque sabem, de antemão, que não serão poupados de arcar com as conseqüências de seus atos. O método do diálogo usado na resolução do conflito ajuda a compreender o sentido da punição. Ela passa a ser entendida como um limitador, uma ajuda na construção de um comportamento autocontrolável e isso não gera revolta nos adolescentes. Eles compreendem o papel da Direção ao aplicar a punição e aceitam. Cabe ressalatar que é importante delegar essa tarefa de gerenciamento do conflito a profissionais que tenham muita habilidade reflexiva, de diálogo construtivo, diplomacia para promover a união, tocar o coração, sensibilizar e promover a paz nas relações.
É sempre importante ter uma pasta com textos que tragam depoimentos reais de pessoas que sofreram ou sofrem de Bullying, como aquele caso publicado pelo Jornal Zero Hora, entitulado “Bullying: quando ir à escola é um pesadelo”. Fizemos essa experiência na escola há duas semanas. O resultado do processo dialógico foi muito bem sucedido e o adolescente que praticou o Bullying, recebeu como tarefa, o referido texto impresso e deveria cumprir com a tarefa de elaborar um outro texto, que expressasse seus sentimentos em relação ao que leu. Temos o texto, que, na verdade, foi mais uma carta, dirigida à Direção, muito reveladora sobre os motivos que o levam a fazer gozações com colegas hoje ( ele sofreu sempre de Bullying na outra escola onde estudava) e falando da sua vontade de mudar, não prometendo que iria conseguir ser 100%, mas iria tentar. Isso nos anima a persistir nesse processo.
Outra estratégia que temos empreendido é a de valorizar , de modo especial, aqueles alunos estudiosos, que são discriminados, muitas vezes, pela maioria, justamente por se dedicarem mais aos estudos. Buscamos construir uma cultura de valorização do esforço pessoal para aprender. Todo aluno que se destaca em algum projeto, é feita uma ampla divulgação das suas conquistas em cartazes, banners, faixas, matérias no site da escola e na mídia local. Esse tipo de estratégia tem o propósito de melhorar a auto-estima das crianças e jovens que são dedicados e estudiosos, destacar seu valor junto à sua comunidade educativa e oportunizar um outro tipo de olhar dos colegas, para esses alunos.
Outro aspecto que é oportuno lembrar é a promoção de projetos que promovem o protagonismo juvenil e uma relação de aproximação da família com a escola, por meio de projetos solidários e de integração, abrindo-se o espaço da escola para a convivência saudável através do esporte e de eventos que valorizem a integração das famílias entre si e com a escola.
Para este ano de 2010, temos previstas, além dessas, outras ações de prevenção:
- Palestra, com Psicóloga, para alunos, por nível de ensino: “Se liga, bullying não tá com nada!”
- Palestra, com Psicóloga, para pais: “Pais e filhos: limites sem traumas”
- Painel de debates com agentes da Polícia Federal
–“Pô cara, ciberbullying é uma roubada”
- Palestra com a Diretora da escola: O Domínio das Emoções: uma competência a se construir cotidianamente
- Concurso de produção de documentários, vídeos sobre a temática do Bullying pelos alunos.
Uma comissão de avaliação fará a classificação e seleção das melhores produções e essas serão apresentadas pelos autores a diferentes públicos: pais, alunos, em reunião de educadores e em escolas da comunidade.
O Importante é sempre renovarmos as estratégias de ação, nessa luta, sem perdermos a esperança de que nosso trabalho vai render frutos em algum momento das vidas de nossos educandos; embora pareça não surtir o efeito que se espera de imediato, estamos trabalhando com a formação do ser humano e isso é processo, é vagaroso. Vale persistir, insistir, com aquela teimosa esperança alardeada por Paulo Freire, que caracteriza a prática dos educadores.
Marisa Crivelaro da Silva
Diretora do Colégio Marista Sant'Ana de Uruguaiana